Na apreciação de Kuhn (2011)
aponta-se que a história pode produzir alteração axiomática na
imagem dos parâmetros normais do conhecimento, esboça um conceito
de ciência que advém da historiografia da atividade de pesquisa. Em
tal contexto, há um papel à história e o surgimento dessa
atribuição dependerá do cuidado, em evitar argumentos
preconcebidos, sobre as fontes históricas da atividade científica.
Compreender-se-á, a dinâmica cíclica que constitui a elaboração
e reelaboração do conhecimento científico, para além da descrição
de um pretenso processo de acumulação de avanços técnicos e
científicos.
A pesquisa histórica aponta
obstáculos metodológicos, que demonstram ambiguidades do “processo
cumulativo” da ciência, e implicaram numa mudança estrutural nas
formas do estudo histórico das contribuições científicas. Os
historiadores da ciência pautaram novas perspectivas e traçaram
caminhos alternativos para análise da dinâmica científica.
Abandonou-se o foco sobre as “contribuições permanentes de uma
ciência” ascendente, agora se perseguirá a integralidade
histórica dos processos da ciência no contexto do período que ela
se localiza. Tal perspectiva sugere uma representação diferenciada
da ciência. O trabalho de Kuhn (2011) delineará, implicações da
nova historiografia, os caminhos metodológicos para escolha das
indagações centrais para compreensão científica.
Nas etapas iniciais da construção
da maioria das ciências, sua formulação decorre da disputa entre
várias escolas que se diferenciavam quanto nas formas de ver o
mundo. Nas ciências consolidadas o acúmulo compreensivo das
questões mais gerais, que a embasam, estão mais acordadas entre
seus praticantes. Tais aspectos são apresentados na iniciação dos
postulantes a especialista e o habilitam a uma determinada prática
científica futura. Tal formatação, do que o autor chama de
“ciência normal”, trata a pesquisa, geralmente, como
empreendimento que se dedica a encadear a natureza à diagramação
indicada pela profissionalização. Portanto, a “ciência normal”
é a ação pela qual a maioria dos cientistas aplicam seus esforços.
Ela pressupõe um padrão normativo sobre o mundo.
No contexto da ciência normal
ocorrem fases de desorientação. Em decorrência delas iniciam-se
“investigações extraordinários” que acarretam novo acervo de
compromissos. Tais incidentes extraordinários geram novos
ajustamentos profissionais e são denominados, por Kuhn (2011),
“revoluções científicas”. As revoluções científicas
desintegram elementos fundamentais da tradição de execução do
modelo científico anteriormente hegemônico. Tais revoluções são
momentos decisivos do desenvolvimento científico e têm sua
culminância na vitoriosa rejeição da teoria científica
anteriormente hegemônica num processo de substituição dela por uma
nova.
Outra dinâmica apontada é a de que
as revoluções científicas, geralmente, modificaram os problemas
apurados pela ciência e nas suas normas, tais episódios afamados do
desenvolvimento científico (que no decorrer do tempo, denominou-se
de revoluções.) são momentos decisivos do desenvolvimento
científico que têm sua culminância na vitoriosa rejeição da
teoria científica, anteriormente hegemônica, em favor de um novo
primado teórico incompatível com o anterior. Em decorrência disso,
altera-se as dúvidas relevantes que serão catalogadas e os modelos
utilizados para aferi-los.
Geralmente
a invenção de novas teorias acarreta mudança normativa e prática
da anterior “ciência normal” e atua sobre negócios científicos
“conclusos com sucesso” (quase sempre não é, somente,
incremento ao já catalogado). Portanto, impetra a refundação da
teoria precedente e a reavaliação dos fatos precedentes. O
impacto revolucionário não advém apenas das
novas teorias científicas,
o
mundo do científico
é transformado
qualitativamente
e quantitativamente,
ele
é enriquecido
pelas novidades basilares
dos
fatos ou teorias. Portanto,
o caminho à ciência normal,
a pesquisa fortemente
alicerçada
em realizações científicas previamente
avalizadas durante
algum tempo por alguma comunidade científica.
Geralmente, alguns trabalhos servem
de base, por algum tempo, para definir indiretamente as problemáticas
e os métodos legítimos de um ramo de análise científica. Eles
fizeram isso por conta de suas características primordiais:
contribuições sem precedentes e que atraíram um agrupamento
perdurável de afiliados; e concomitantemente, tais contribuições,
são permeáveis a um conjunto amplo de questões a serem tratadas
pelos adeptos da nova ciência normal. Portanto, determinados
exemplos aceitos na prática científica real proporcionam padrões
dos quais germinam as escolas científicas. O estudo dos paradigmas é
o que prepara o estudante à comunidade científica determinada. A
pesquisa deles se baseia em paradigmas compartilhados à prática
científica.
A aquisição de um paradigma e do
tipo de pesquisa mais específico permite aferir a maturidade dos
campos científicos considerados. Isso é um processo que, com
exceção das áreas com paradigmas estáveis datados da
pré-história, a história sugere como espinhoso. Na disjunção
paradigmática todos objetos de uma ciência têm igual relevância
impossibilitando o foco de análise. Nesse contexto, algumas vezes, a
racionalidade técnica compeliu aos paradigmas das novas ciências.
Entretanto, raramente os “fatos coletados com tão pouca orientação
por parte de teorias preestabelecidas falam com suficiente clareza
para permitir o surgimento de um primeiro paradigma.” (KUHN, 2011,
p. 37).
Outro aspecto trabalho, no ensaio, é
a relação entre as crenças e as teorias nos seus primórdios.
Portanto, os seres humanos em diferentes períodos históricos,
quando confrontados com os mesmos fenômenos, tende a interpretá-los
de formas diversas. Entretanto, tais divergências se enfraquecem no
processo de constituição das escolas pré-paradigmáticas. Como já
foi expresso, neste resumo, o paradigma ganha força frente aos
outros pretensos paradigmas quando suas explicações parecerem
melhores. Quando na ciência, de forma inédita, se produz uma
explicativa que atrai a maior parte dos seus praticantes. Dela
decorre a decadência do modo científico normal anterior e no seu
lugar surge um novo modo de operação científica.
Após constituição do paradigma é
desnecessário aos pesquisadores iniciarem suas pesquisas das bases
gerais, pois onde os manuais trarão os princípios que ensinar-se-á
como pré-requisito na formação inicial dos pesquisadores.
Portanto, eles concentrar-se-ão exclusivamente nos aspectos mais
selecionados dos fenômenos que preocupam a comunidade científica.
Em decorrência surgirão os periódicos científicos com textos
“dirigidos apenas aos colegas de profissão, homens que certamente
conhecem o paradigma partilhado e que demonstram ser os únicos
capazes de ler os escritos a eles endereçados.” (Ibid., p. 40).
A historiografia aponta, na ciência
normal, que o paradigma funciona como mecanismo que permite a
reprodução didática dos padrões, mas não é totalmente
bem-sucedido em todas as situações. Ele representa uma promessa de
sucesso e a ciência normal faz sua constante atualização ampliando
o conhecimento dos fatos que o paradigma apresenta como relevantes.
Portanto, a ciência normal não levantará novos questionamentos
porque busca, acima de tudo, o ajustamento aos limites do paradigma.
Também não compõem novas conjeturas porque a atividade científica
normal se dirige à conexão do já fornecidos pelo paradigma.
O território de pesquisa da ciência
normal é pequeno, tal restrição é vital ao desenvolvimento da
ciência. Isso impeli à investigação profunda e detalhada do
diminuto recorte. Tal procedimento traz avanços compreensivos que de
outra forma dificilmente seriam possíveis. Além disso, determinar o
que é importante traz equilíbrio entre a realidade e a teoria.
Entretanto, surgem problemas extraordinários em alguns momentos,
gerados pelos saltos da ciência normal. Tais momentos são
potenciais estopim das revoluções científicas.
Quanto a atuação da ciência normal
na resolução de problemas (montagem de “quebra-cabeças”) os
resultados alcançados pela pesquisa contribuem à exatidão
operacional do paradigma. Ele permite alcança o espero de uma
maneira diferente. Far-se-á uma analogia com a montagem de complexos
quebra-cabeças. O cientista, bem-sucedido na sua empresa, comprova
sua habilidade na resolução de quebra-cabeças. Portanto, o desafio
posto pelo quebra-cabeça é parte fundamental da motivação do
investigador à empreitada científica. Entretanto, um paradigma pode
apartar cientistas das controvérsias sociais relevantes, isso ocorre
quando não se enunciam compativelmente aos instrumentais do
paradigma.
Na ciência normal, geralmente o
progresso aparenta rapidez porque seus praticantes se concentram em
problemas que já têm solução, mas suas forma de resolução podem
apresentar novas nuances. Além disso, para se classificar um
problema com o status de “quebra-cabeça”, não basta a ele ter a
certeza de solução. Também respeitará às limitações tanto à
natureza das respostas como aos métodos para alcançá-las. Tais
limitações fazem o cientista preocupar-se com a ampliação da
precisão e o alcance do arranjo que dispõe. Portanto, na ciência
normal há uma espécie de catalogação que expõe uma conturbação
interna, ela aguçará o refinamento das técnicas de observação
e/ou a maior articulação da teoria.
A rede de compromissos é o que
alimenta a metáfora que relaciona ciência normal a resolução de
quebra-cabeças. Eles oferecem, ao praticante de uma especialidade
maturada, as leis que revelam a natureza do mundo e da sua escola
científica, dessa forma permite-lhe centralizar seus esforços nos
problemas definidos por tais regras. Apesar da obvia existência de
regras às quais todos os praticantes de uma ciência aderem numa
ocasião, elas não especificam todo o fazer que tais especialistas
têm em comum. A ciência normal é muito, mas não completamente
determinada por suas regras que decorrem de paradigmas relativamente
autônomos em relação a elas.
Em decorrência, percebemos uma
relativa prioridade dos paradigmas. Isso acontece por que há falta
de padronização unânime na interpretação das leis e isso não
impede a orientação paradigmática de um ramo de pesquisa
científica. Portanto, na falta de regras que limitem o cientista, os
paradigmas determinam a ação de regras a serem descobertas. Uma
teoria nova se anuncia acompanhado de suas aplicações a uma
categoria concreta de fenômenos. Tais aplicações são fundamentais
no processo de aprendizado de uma teoria, no contexto também da sua
solução aos problemas elencados.
No contexto da ciência
normal sua continuidade ocorre sem regras enquanto o coletivo
considerável de cientistas atender sem questionamento as soluções
já obtidas. Porém, em períodos pré-revolucionários, ressurgem
debates sobre os métodos e sua legitimidade. Embora
quase inexistam na
estabilidade de ciência normal, ocorrem
periodicamente antes e durante as revoluções. Na permanência
da legitimidade absoluta dos paradigmas não há necessidade de um
acordo sobre suas razões utilitárias. Além disso, a mudança
localizada numa ou noutra aplicação do paradigma será
revolucionária apenas a um grupo superespecializado, para o restante
a alteração não terá necessariamente tal caráter.
Outro aspecto apontado é o anômico
e sua relação com as descobertas científicas. Tais descobertas
decorrem do empreendimento científico que muito cumulativo, e
extremamente bem-sucedido no tocante ao aumento continuada do
território e da exatidão do saber científico. Como já foi dito, a
ciência normal não se propõe descobrir novidades no terreno dos
fatos ou da teoria, mas periodicamente ocorre a descoberta, pela
pesquisa científica, de surpresas. Portanto, elas afloram àqueles
que sabendo com exatidão o que esperavam, são capazes de reconhecer
a surpresa. Para eles o anômalo se mostra no cenário coadunado pelo
paradigma. A exatidão e amplitude paradigmáticos servem para
destacar as anomalias, bem como os seus potenciais revolucionários.
Eles prendem os cientistas a uma racionalidade que dificilmente se
abala. Desta forma, garantem que apenas irresistíveis anomalias
acarretem mudanças paradigmáticas.
O autor, ao tratar sobre as crises e
a emergência das novas teorias, aponta que houve antecipações de
mudanças paradigmáticas, mas elas foram ignoradas em decorrência
da ausência de uma situação de crise. A historiografia científica
mostra que é fácil inventar novos paradigmas, mas não é,
majoritariamente, o que os cientistas procuram (exceção a tal
dinâmica são os momentos e crise onde podem ocorrer a formação
das bases de um novo paradigma ao desenvolvimento científico).
Portanto, enquanto as ferramentas do modelo anterior forem legítimas
no processo de resolução dos problemas, a ciência move-se
rapidamente por meio da utilização de tal ferramental, mas chegam
momentos (crises dos paradigmas) que podem causar renovação dos
instrumentos.
Em decorrência das “crises”
surgem dinâmicas das quais podem surgir novas teorias, isso
dependerá da maneira como a comunidade científica reagirá. A
historiografia observa que eles mantém a adesão ao paradigma, mesmo
frente as contradições típicas dos períodos de crise, porque o
abandono do paradigma não pode ocorrer sem sua substituição por
outro mais adequado ao contexto.
Decidir
rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro
e o juízo que conduz a essa decisão envolve a comparação de ambos
os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua. […]
Tal como os artistas, os cientistas criadores precisam, em
determinadas ocasiões, ser capazes de viver em um mundo desordenado
[…]. Rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por
outro é rejeitar a própria ciência. (Ibid., p. 108-109).
O diferencial entre os estados da
ciência (normal; crise) não é a inexistência, no estado normal,
de contraexemplos presentes no estado de explicações. O estado de
crise, ao provocar uma reprodução de versões do paradigma,
enfraquece método de resolução dos quebra-cabeças da ciência
normal, permitindo a possível eclosão de um novo arquétipo
científico. Em decorrência disso a anomia, para desencadear uma
crise paradigmática, deve ser forte o suficiente para não ser
resolvida pelos processos do então paradigma da ciência normal. Ela
atrairá a atenção da comunidade científica e, se não alcançam
sucesso na sua resolução, torna-se objeto de estudo de uma
disciplina especializada.
Historicamente, as
crises iniciam-se com a obsolescência de um paradigma e o
afrouxamento das suas leis de investigação. Tais processos,
geralmente, terminam de três maneiras: podem ser resolvidos pela
ciência normal; podem resistir a ciência normal, mas serem taxados
como insolúveis; e podem ocasionar a emergência de um novo
candidato a paradigma. Além disso, há um tempo
de transição no qual ocorre uma convergência
de problemas que podem ser solucionados pelos paradigmas (antigo e
novo). Entretanto, completada a transição, os cientistas
terão novo discernimento do território de pesquisa, dos métodos e
objetivos. Além disso, geralmente, um novo paradigma emerge, mesmo
que embrionariamente. antes de uma crise. Tais crises prostram a
solidez dos estereótipos e concomitantemente dão os dados
necessários à nova fundamentação paradigmática. Algumas vezes o
formato do novo paradigma é esboçado na estrutura que a pesquisa
extraordinária deu à anomalia. Entretanto, mais frequentemente tal
rascunho não é notado conscientemente. Ao invés disso, o novo
paradigma assoma-se abruptamente.
Até aqui o autor descreveu
considerações sobre a formação dos paradigmas, as crises
paradigmáticas, seus potenciais revolucionários. É feito ainda um
paralelo entre as revoluções científicas e as revoluções
científicas. As primeiras iniciam-se quando as instituições
existentes não mais respondem, adequadamente, às problemáticas do
meio social que tais instituições criaram e sustentam. De maneira
parecida, as segundas com um sentimento semelhante em relação ao
paradigma. Portanto, tanto no desenvolvimento político como no
desenvolvimento científico, o sentimento de anomalia, que pode
causar uma crise, é pré-requisito a uma revolução.
Além disso, de forma semelhante a
disputa entre duas instituições políticas, a escolha entre
paradigmas concorrentes mostra-se uma opção entre modos
irreconciliáveis de convivência. Quando paradigmas disputam um
debate sobre a opção paradigmática, seu papel é forçosamente
circular. Cada grupamento emprega seu paradigma para argumentar em
favor dele. Na proclamação de um paradigma não há critério acima
da adesão da sociedade relevante ao determinado ramo da ciência.
Portanto, é importante analisar as diferenças técnica e também às
características argumentativas ao convencimento do coletivo
relevante.
Decorrida a época pré-paradigmática,
a absorção dos fenômenos aditaram a extinção do paradigma
anterior e o consequente conflito entre as escolas de pensamento
científico antagônicas. A acumulação de novidades afigura-se uma
exceção à regra do desenvolvimento científico, na historiografia
suspeita-se que a ciência não tende ao ideal cumulativo. Amiúde, o
alcance da revelação decorrente é condizente à extensão e à
tenacidade da anomalia que a prenunciou. Assim, haverá uma
incompatibilidade entre o paradigma que aviva uma anomalia e aquele
que, a submete a uma nova normativa. Portanto, existem três
naturezas e fenômenos desenvolveres de teorias: uma abarca
fenômenos já explicados pelos paradigmas efetivos; a outra
compreende aqueles cuja natureza visa articular paradigmas
existentes; e o terceiro reconhece as anomalias dos paradigmas
existentes.
Apenas as anomalias têm potencial
para gerar novas teorias, os demais fenômenos abastecem a
compreensão da ciência normal hegemônica. Portanto, novas
teorias, convocadas para corrigir as anomalias da teoria hegemônica,
quando bem-sucedidas admitem afirmativas diversas das decorrentes de
sua predecessora. Tal fato não ocorreria se as teorias fossem
conciliáveis. Historicamente, a inclusão lógica não se sustenta a
pesar da sua admissibilidade hipotética.
Kuhn (2011) continua sua análise,
sobre o fenômeno das revoluções científicas, de maneira mais
articulada com a contemporaneidade. Trata das restrições atuais às
pesquisas que busquem precisão onde a prática anterior da teoria
não oferece precedentes. Tais impedimentos barram o desenvolvimento
científico. Se as teorias efetivas impelem o cientista apenas às
aplicações atuais, então impede-se surpresas, anomalias ou
crises.
Alterar a acepção dos conceitos
estabelecidos é vital à concussão revolucionária da teoria, as
diferenças entre sucessivos modelos são ao concomitantemente
necessárias e irreconciliáveis, a acolhida de um novo paradigma
roga por uma redefinição da respectiva ciência. Algumas dúvidas
anteriores podem ser deslocada a outra ciência ou declarados não
científicos; outras anteriormente tidas como triviais ou
inexistentes podem se converter, com a nova percepção
paradigmática, nos modelos válidos. Portanto, na proporção que
mudam os problemas, também alteram-se os padrões da verdadeira
solução científica. A tradição científica normal emergente numa
revolução científica é incompatível com aquela que submeteu.
As mudanças, na consciência dos
cientistas sobre padrões da ciência normal, não têm caráter
acumulativo e/ou de valor (bom ou mau). Elas são modificações
compulsórias sempre que há adoção de uma nova concepção
paradigmática. Observa-se que os paradigmas conseguem satisfazer,
na maior parte, o método que ele impõe e não faz o mesmo frente ao
método do seu oponente paradigmático. Portanto, da mesma forma que
a questão dos referenciais em competição, também sobre os valores
só responder-se-á, com alguma assertividade, nos termos anteriores
à ciência.
Com base na historiografia alguns
podem proclamar que a mudança dos paradigmas modifica também o
mundo, mas certamente isso nunca se alcança; embora, as alterações
paradigmáticas mudem a visão dos cientistas sobre o mundo definido
por seus compromissos de pesquisa (a menos que exista um padrão
exterior com afinidade ao qual uma alteração conceitual seja
demonstrável) não abstrair-se-á nenhuma conclusão sobre a mudança
da realidade. Por outro lado, na observação científica, o
pesquisador não recorrerá a algo que esteja aquém ou além do que
ele vê.
Decorrida
uma revolução científica, muitos trabalhos anteriores se tornam
entulho e são substituídos por outros, mas não
importa o que o cientista pode
ver, após a revolução, ainda
observará
o
mesmo mundo. Entende-se
que as modificações se dão nas relações paradigmáticas e
dessas com os resultados concretos que dão a percepção sobre o
mundo.
Quanto a “invisibilidade das
revoluções”. Há circunstâncias que tornam as revoluções quase
invisíveis. A visão hegemônica que cientistas e leigos têm da
“atividade científica criadora” sucede de uma fonte legitimada
que dissimula calculadamente a presença e o sentido das revoluções
científicas. Dificilmente, antes da identificação dos mecanismos
dessa visão hegemônica, é possível verificar a existência das
mudanças de paradigmas. Nesse desafio compreensivo, o estudo dos
manuais é importante porque são os condutores didáticos aplicados
na perpetuação da ciência normal, e serão parcial ou totalmente
reescritos após mudança paradigmática. Assim, a reelaboração de
tais manuais expressa também a explicitação das revoluções das
quais eles decorrem.
As revoluções apresentam soluções
que se consolidam durante o processo de substituição entre
paradigmas, tais conclusões decorrem de um processo que se inicia no
discernimento de um indivíduo ou grupo de indivíduos que são os
fundadores de uma nova perspectiva sobre o mundo. Isto compreendido,
observa-se que o empreendimento efetivo de um paradigma acontece
após a persistência do fracasso na resolução de um quebra-cabeça
eminente que originará uma crise. Na ciência a experimentação
simboliza parte do antagonismo entre dois paradigmas que candidatos à
adesão da comunidade científica. Os argumentos, em favor de um novo
paradigma, fundamentam-se no confronto entre as habilidades dos
competidores para resolver problemas (a capacidade de tais recursos é
o que força a adesão ao paradigma vitorioso).
Jubilosamente há outra consideração,
potencialmente relevante, na condução do processo de rejeição do
decrépito paradigma e sua substituição por um paradigma mais
recente. São aquelas considerações que abrangem, no indivíduo, a
percepção do sentindo do que é adequado ou estético. A
importância de tais aspectos pode ser fundamentalmente decisiva.
“Embora seguidamente atraiam apenas alguns cientistas para a nova
teoria, o triunfo final desta pode depender desses poucos.” (Ibid.,
p. 195).
As disputas entre paradigmas não
tratam efetivamente da aptidão para resolver problemática, ao invés
disso, o assunto real é a decisão sobre que paradigma orientará as
pesquisas científica (frente a muitos desses problemas, nenhum dos
enquadramentos terá absolutas condições de resolvê-los).
Portanto, no fundo, trata-se de um processo decisório sobre as
formas mais convenientes de normatizar a prática científica. Tal
escolha basear-se-á preponderantemente nas promessas conjeturadas do
que nas realizações. Além disso, para vencer o paradigma
necessitará “de alguns adeptos iniciais, que o desenvolverão até
o ponto em que argumentos objetivos possam ser produzidos e
multiplicados.” (Ibid., p. 201). Há espécies de deslocamentos
numa dinâmica de classificação e reclassificação de acomodações
das linhas dos especialistas. Na execução desse processo, o
paradigma que vencerá, aumenta o número e a força de seus
argumentos de convencimento. Assim, cientistas converter-se-ão ao
novo paradigma até que fiquem alguns opositores mais decrépitos.
Também é importante à análise do
“progresso através de revoluções” considerar o tema como em
aberto. O autor entende que sua descrição se apercebe da
“estrutura essencial da evolução contínua da ciência”. Num
contexto no qual a termo ciência refere-se àquelas áreas que
progridem num aspecto aparente. O desenvolvimento, aparentemente
óbvio, ocorre concomitantemente à hegemonia de uma ciência normal
com seu paradigma. Em tais períodos, entretanto, os expertos não
podem atinar sobre os resultados de seus esforços de outra maneira
que não seja sob a influência do paradigma posto. Portanto, fração
significativa da resposta à problemática do desenvolvimento
localiza-se na perspectiva do observador, por que o cientista atua
para um grupo que partilha de seus valores e crenças que permitem-no
estatuir regras específicas.
Conforme o descrito acima, o
cientista preocupar-se-á com a censura de outro grupo ou escola, o
cientista concentrar-se-á nos problemas que se julgue competente
para resolver e não estará constrangido a escolher uma problemática
sem considerar o ferramental disponível para tal empresa. De tal
perspectiva, há um “contraste entre os cientistas ligados às
ciências da natureza e o muitos cientistas sociais é instrutivo. Os
últimos tendem frequentemente, e os primeiros quase nunca, a
defender sua escolha de um objeto de pesquisa.” (Ibid., p. 208).
Tendo disponível uma geração, para
efetivar a alteração, a rigidez individual compatibilizar-se-á com
um grupo capaz de trocar de paradigma quando a situação demandar,
na estabilidade da hegemonia da ciência normal, a comunidade
científica aparelha a resolução dos “quebra-cabeças definidos
por seu paradigma”. Além disso, as revoluções arrematam
glorificando totalmente um dos campos rivais e o grupo vencedor
dificilmente deixará de perceber sua própria ascensão como
progresso. A análise, de tal perspectiva, mostra que o consócio de
uma comunidade científica amadurecida sacrifica sua crítica no
processo da reescrita histórica feita pelos poderes constituídos.
Em tal contexto, ignora-se que as revoluções científicas
caracterizam-se tanto de perdas como de ganhos.
talvez
tenhamos que abandonar a noção […] segundo a qual as mudanças de
paradigmas levam os cientistas e os que com eles aprendem a uma
proximidade sempre maior da verdade. […] O processo de
desenvolvimento [foi descrito aqui como] [...] evolução a partir de
um início primitivo. […] Mas nada do que foi ou será
dito o transforma num processo de evolução em direção a
algo. (Ibid., p. 215, grifo nosso).
Enfim, verifica-se, por meio da
historiografia, que os diferentes ciclos revolucionários
intervalados por períodos de estabilidade de diferentes paradigmas
às respectivas ciências normais compõe uma estrutura que
fundamenta a legitimidade do conhecimento científico em cada um dos
contextos sociais e históricos. Além disso, tudo isso ocorre sem
uma verdade eternizada.
REFERÊNCIAS:
KUHN, Thomas S. A estrutura das
revoluções científicas. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
260 p.
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