sábado, 8 de fevereiro de 2014

A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS


Na apreciação de Kuhn (2011) aponta-se que a história pode produzir alteração axiomática na imagem dos parâmetros normais do conhecimento, esboça um conceito de ciência que advém da historiografia da atividade de pesquisa. Em tal contexto, há um papel à história e o surgimento dessa atribuição dependerá do cuidado, em evitar argumentos preconcebidos, sobre as fontes históricas da atividade científica. Compreender-se-á, a dinâmica cíclica que constitui a elaboração e reelaboração do conhecimento científico, para além da descrição de um pretenso processo de acumulação de avanços técnicos e científicos.
A pesquisa histórica aponta obstáculos metodológicos, que demonstram ambiguidades do “processo cumulativo” da ciência, e implicaram numa mudança estrutural nas formas do estudo histórico das contribuições científicas. Os historiadores da ciência pautaram novas perspectivas e traçaram caminhos alternativos para análise da dinâmica científica. Abandonou-se o foco sobre as “contribuições permanentes de uma ciência” ascendente, agora se perseguirá a integralidade histórica dos processos da ciência no contexto do período que ela se localiza. Tal perspectiva sugere uma representação diferenciada da ciência. O trabalho de Kuhn (2011) delineará, implicações da nova historiografia, os caminhos metodológicos para escolha das indagações centrais para compreensão científica.
Nas etapas iniciais da construção da maioria das ciências, sua formulação decorre da disputa entre várias escolas que se diferenciavam quanto nas formas de ver o mundo. Nas ciências consolidadas o acúmulo compreensivo das questões mais gerais, que a embasam, estão mais acordadas entre seus praticantes. Tais aspectos são apresentados na iniciação dos postulantes a especialista e o habilitam a uma determinada prática científica futura. Tal formatação, do que o autor chama de “ciência normal”, trata a pesquisa, geralmente, como empreendimento que se dedica a encadear a natureza à diagramação indicada pela profissionalização. Portanto, a “ciência normal” é a ação pela qual a maioria dos cientistas aplicam seus esforços. Ela pressupõe um padrão normativo sobre o mundo.
No contexto da ciência normal ocorrem fases de desorientação. Em decorrência delas iniciam-se “investigações extraordinários” que acarretam novo acervo de compromissos. Tais incidentes extraordinários geram novos ajustamentos profissionais e são denominados, por Kuhn (2011), “revoluções científicas”. As revoluções científicas desintegram elementos fundamentais da tradição de execução do modelo científico anteriormente hegemônico. Tais revoluções são momentos decisivos do desenvolvimento científico e têm sua culminância na vitoriosa rejeição da teoria científica anteriormente hegemônica num processo de substituição dela por uma nova.
Outra dinâmica apontada é a de que as revoluções científicas, geralmente, modificaram os problemas apurados pela ciência e nas suas normas, tais episódios afamados do desenvolvimento científico (que no decorrer do tempo, denominou-se de revoluções.) são momentos decisivos do desenvolvimento científico que têm sua culminância na vitoriosa rejeição da teoria científica, anteriormente hegemônica, em favor de um novo primado teórico incompatível com o anterior. Em decorrência disso, altera-se as dúvidas relevantes que serão catalogadas e os modelos utilizados para aferi-los.
Geralmente a invenção de novas teorias acarreta mudança normativa e prática da anterior “ciência normal” e atua sobre negócios científicos “conclusos com sucesso” (quase sempre não é, somente, incremento ao já catalogado). Portanto, impetra a refundação da teoria precedente e a reavaliação dos fatos precedentes. O impacto revolucionário não advém apenas das novas teorias científicas, o mundo do científico é transformado qualitativamente e quantitativamente, ele é enriquecido pelas novidades basilares dos fatos ou teorias. Portanto, o caminho à ciência normal, a pesquisa fortemente alicerçada em realizações científicas previamente avalizadas durante algum tempo por alguma comunidade científica.
Geralmente, alguns trabalhos servem de base, por algum tempo, para definir indiretamente as problemáticas e os métodos legítimos de um ramo de análise científica. Eles fizeram isso por conta de suas características primordiais: contribuições sem precedentes e que atraíram um agrupamento perdurável de afiliados; e concomitantemente, tais contribuições, são permeáveis a um conjunto amplo de questões a serem tratadas pelos adeptos da nova ciência normal. Portanto, determinados exemplos aceitos na prática científica real proporcionam padrões dos quais germinam as escolas científicas. O estudo dos paradigmas é o que prepara o estudante à comunidade científica determinada. A pesquisa deles se baseia em paradigmas compartilhados à prática científica.
A aquisição de um paradigma e do tipo de pesquisa mais específico permite aferir a maturidade dos campos científicos considerados. Isso é um processo que, com exceção das áreas com paradigmas estáveis datados da pré-história, a história sugere como espinhoso. Na disjunção paradigmática todos objetos de uma ciência têm igual relevância impossibilitando o foco de análise. Nesse contexto, algumas vezes, a racionalidade técnica compeliu aos paradigmas das novas ciências. Entretanto, raramente os “fatos coletados com tão pouca orientação por parte de teorias preestabelecidas falam com suficiente clareza para permitir o surgimento de um primeiro paradigma.” (KUHN, 2011, p. 37).
Outro aspecto trabalho, no ensaio, é a relação entre as crenças e as teorias nos seus primórdios. Portanto, os seres humanos em diferentes períodos históricos, quando confrontados com os mesmos fenômenos, tende a interpretá-los de formas diversas. Entretanto, tais divergências se enfraquecem no processo de constituição das escolas pré-paradigmáticas. Como já foi expresso, neste resumo, o paradigma ganha força frente aos outros pretensos paradigmas quando suas explicações parecerem melhores. Quando na ciência, de forma inédita, se produz uma explicativa que atrai a maior parte dos seus praticantes. Dela decorre a decadência do modo científico normal anterior e no seu lugar surge um novo modo de operação científica.
Após constituição do paradigma é desnecessário aos pesquisadores iniciarem suas pesquisas das bases gerais, pois onde os manuais trarão os princípios que ensinar-se-á como pré-requisito na formação inicial dos pesquisadores. Portanto, eles concentrar-se-ão exclusivamente nos aspectos mais selecionados dos fenômenos que preocupam a comunidade científica. Em decorrência surgirão os periódicos científicos com textos “dirigidos apenas aos colegas de profissão, homens que certamente conhecem o paradigma partilhado e que demonstram ser os únicos capazes de ler os escritos a eles endereçados.” (Ibid., p. 40).
A historiografia aponta, na ciência normal, que o paradigma funciona como mecanismo que permite a reprodução didática dos padrões, mas não é totalmente bem-sucedido em todas as situações. Ele representa uma promessa de sucesso e a ciência normal faz sua constante atualização ampliando o conhecimento dos fatos que o paradigma apresenta como relevantes. Portanto, a ciência normal não levantará novos questionamentos porque busca, acima de tudo, o ajustamento aos limites do paradigma. Também não compõem novas conjeturas porque a atividade científica normal se dirige à conexão do já fornecidos pelo paradigma.
O território de pesquisa da ciência normal é pequeno, tal restrição é vital ao desenvolvimento da ciência. Isso impeli à investigação profunda e detalhada do diminuto recorte. Tal procedimento traz avanços compreensivos que de outra forma dificilmente seriam possíveis. Além disso, determinar o que é importante traz equilíbrio entre a realidade e a teoria. Entretanto, surgem problemas extraordinários em alguns momentos, gerados pelos saltos da ciência normal. Tais momentos são potenciais estopim das revoluções científicas.
Quanto a atuação da ciência normal na resolução de problemas (montagem de “quebra-cabeças”) os resultados alcançados pela pesquisa contribuem à exatidão operacional do paradigma. Ele permite alcança o espero de uma maneira diferente. Far-se-á uma analogia com a montagem de complexos quebra-cabeças. O cientista, bem-sucedido na sua empresa, comprova sua habilidade na resolução de quebra-cabeças. Portanto, o desafio posto pelo quebra-cabeça é parte fundamental da motivação do investigador à empreitada científica. Entretanto, um paradigma pode apartar cientistas das controvérsias sociais relevantes, isso ocorre quando não se enunciam compativelmente aos instrumentais do paradigma.
Na ciência normal, geralmente o progresso aparenta rapidez porque seus praticantes se concentram em problemas que já têm solução, mas suas forma de resolução podem apresentar novas nuances. Além disso, para se classificar um problema com o status de “quebra-cabeça”, não basta a ele ter a certeza de solução. Também respeitará às limitações tanto à natureza das respostas como aos métodos para alcançá-las. Tais limitações fazem o cientista preocupar-se com a ampliação da precisão e o alcance do arranjo que dispõe. Portanto, na ciência normal há uma espécie de catalogação que expõe uma conturbação interna, ela aguçará o refinamento das técnicas de observação e/ou a maior articulação da teoria.
A rede de compromissos é o que alimenta a metáfora que relaciona ciência normal a resolução de quebra-cabeças. Eles oferecem, ao praticante de uma especialidade maturada, as leis que revelam a natureza do mundo e da sua escola científica, dessa forma permite-lhe centralizar seus esforços nos problemas definidos por tais regras. Apesar da obvia existência de regras às quais todos os praticantes de uma ciência aderem numa ocasião, elas não especificam todo o fazer que tais especialistas têm em comum. A ciência normal é muito, mas não completamente determinada por suas regras que decorrem de paradigmas relativamente autônomos em relação a elas.
Em decorrência, percebemos uma relativa prioridade dos paradigmas. Isso acontece por que há falta de padronização unânime na interpretação das leis e isso não impede a orientação paradigmática de um ramo de pesquisa científica. Portanto, na falta de regras que limitem o cientista, os paradigmas determinam a ação de regras a serem descobertas. Uma teoria nova se anuncia acompanhado de suas aplicações a uma categoria concreta de fenômenos. Tais aplicações são fundamentais no processo de aprendizado de uma teoria, no contexto também da sua solução aos problemas elencados.
No contexto da ciência normal sua continuidade ocorre sem regras enquanto o coletivo considerável de cientistas atender sem questionamento as soluções já obtidas. Porém, em períodos pré-revolucionários, ressurgem debates sobre os métodos e sua legitimidade. Embora quase inexistam na estabilidade de ciência normal, ocorrem periodicamente antes e durante as revoluções. Na permanência da legitimidade absoluta dos paradigmas não há necessidade de um acordo sobre suas razões utilitárias. Além disso, a mudança localizada numa ou noutra aplicação do paradigma será revolucionária apenas a um grupo superespecializado, para o restante a alteração não terá necessariamente tal caráter.
Outro aspecto apontado é o anômico e sua relação com as descobertas científicas. Tais descobertas decorrem do empreendimento científico que muito cumulativo, e extremamente bem-sucedido no tocante ao aumento continuada do território e da exatidão do saber científico. Como já foi dito, a ciência normal não se propõe descobrir novidades no terreno dos fatos ou da teoria, mas periodicamente ocorre a descoberta, pela pesquisa científica, de surpresas. Portanto, elas afloram àqueles que sabendo com exatidão o que esperavam, são capazes de reconhecer a surpresa. Para eles o anômalo se mostra no cenário coadunado pelo paradigma. A exatidão e amplitude paradigmáticos servem para destacar as anomalias, bem como os seus potenciais revolucionários. Eles prendem os cientistas a uma racionalidade que dificilmente se abala. Desta forma, garantem que apenas irresistíveis anomalias acarretem mudanças paradigmáticas.
O autor, ao tratar sobre as crises e a emergência das novas teorias, aponta que houve antecipações de mudanças paradigmáticas, mas elas foram ignoradas em decorrência da ausência de uma situação de crise. A historiografia científica mostra que é fácil inventar novos paradigmas, mas não é, majoritariamente, o que os cientistas procuram (exceção a tal dinâmica são os momentos e crise onde podem ocorrer a formação das bases de um novo paradigma ao desenvolvimento científico). Portanto, enquanto as ferramentas do modelo anterior forem legítimas no processo de resolução dos problemas, a ciência move-se rapidamente por meio da utilização de tal ferramental, mas chegam momentos (crises dos paradigmas) que podem causar renovação dos instrumentos.
Em decorrência das “crises” surgem dinâmicas das quais podem surgir novas teorias, isso dependerá da maneira como a comunidade científica reagirá. A historiografia observa que eles mantém a adesão ao paradigma, mesmo frente as contradições típicas dos períodos de crise, porque o abandono do paradigma não pode ocorrer sem sua substituição por outro mais adequado ao contexto.

Decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro e o juízo que conduz a essa decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua. […] Tal como os artistas, os cientistas criadores precisam, em determinadas ocasiões, ser capazes de viver em um mundo desordenado […]. Rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência. (Ibid., p. 108-109).


O diferencial entre os estados da ciência (normal; crise) não é a inexistência, no estado normal, de contraexemplos presentes no estado de explicações. O estado de crise, ao provocar uma reprodução de versões do paradigma, enfraquece método de resolução dos quebra-cabeças da ciência normal, permitindo a possível eclosão de um novo arquétipo científico. Em decorrência disso a anomia, para desencadear uma crise paradigmática, deve ser forte o suficiente para não ser resolvida pelos processos do então paradigma da ciência normal. Ela atrairá a atenção da comunidade científica e, se não alcançam sucesso na sua resolução, torna-se objeto de estudo de uma disciplina especializada.
Historicamente, as crises iniciam-se com a obsolescência de um paradigma e o afrouxamento das suas leis de investigação. Tais processos, geralmente, terminam de três maneiras: podem ser resolvidos pela ciência normal; podem resistir a ciência normal, mas serem taxados como insolúveis; e podem ocasionar a emergência de um novo candidato a paradigma. Além disso, há um tempo de transição no qual ocorre uma convergência de problemas que podem ser solucionados pelos paradigmas (antigo e novo). Entretanto, completada a transição, os cientistas terão novo discernimento do território de pesquisa, dos métodos e objetivos. Além disso, geralmente, um novo paradigma emerge, mesmo que embrionariamente. antes de uma crise. Tais crises prostram a solidez dos estereótipos e concomitantemente dão os dados necessários à nova fundamentação paradigmática. Algumas vezes o formato do novo paradigma é esboçado na estrutura que a pesquisa extraordinária deu à anomalia. Entretanto, mais frequentemente tal rascunho não é notado conscientemente. Ao invés disso, o novo paradigma assoma-se abruptamente.
Até aqui o autor descreveu considerações sobre a formação dos paradigmas, as crises paradigmáticas, seus potenciais revolucionários. É feito ainda um paralelo entre as revoluções científicas e as revoluções científicas. As primeiras iniciam-se quando as instituições existentes não mais respondem, adequadamente, às problemáticas do meio social que tais instituições criaram e sustentam. De maneira parecida, as segundas com um sentimento semelhante em relação ao paradigma. Portanto, tanto no desenvolvimento político como no desenvolvimento científico, o sentimento de anomalia, que pode causar uma crise, é pré-requisito a uma revolução.
Além disso, de forma semelhante a disputa entre duas instituições políticas, a escolha entre paradigmas concorrentes mostra-se uma opção entre modos irreconciliáveis de convivência. Quando paradigmas disputam um debate sobre a opção paradigmática, seu papel é forçosamente circular. Cada grupamento emprega seu paradigma para argumentar em favor dele. Na proclamação de um paradigma não há critério acima da adesão da sociedade relevante ao determinado ramo da ciência. Portanto, é importante analisar as diferenças técnica e também às características argumentativas ao convencimento do coletivo relevante.
Decorrida a época pré-paradigmática, a absorção dos fenômenos aditaram a extinção do paradigma anterior e o consequente conflito entre as escolas de pensamento científico antagônicas. A acumulação de novidades afigura-se uma exceção à regra do desenvolvimento científico, na historiografia suspeita-se que a ciência não tende ao ideal cumulativo. Amiúde, o alcance da revelação decorrente é condizente à extensão e à tenacidade da anomalia que a prenunciou. Assim, haverá uma incompatibilidade entre o paradigma que aviva uma anomalia e aquele que, a submete a uma nova normativa. Portanto, existem três naturezas e fenômenos desenvolveres de teorias: uma abarca fenômenos já explicados pelos paradigmas efetivos; a outra compreende aqueles cuja natureza visa articular paradigmas existentes; e o terceiro reconhece as anomalias dos paradigmas existentes.
Apenas as anomalias têm potencial para gerar novas teorias, os demais fenômenos abastecem a compreensão da ciência normal hegemônica. Portanto, novas teorias, convocadas para corrigir as anomalias da teoria hegemônica, quando bem-sucedidas admitem afirmativas diversas das decorrentes de sua predecessora. Tal fato não ocorreria se as teorias fossem conciliáveis. Historicamente, a inclusão lógica não se sustenta a pesar da sua admissibilidade hipotética.
Kuhn (2011) continua sua análise, sobre o fenômeno das revoluções científicas, de maneira mais articulada com a contemporaneidade. Trata das restrições atuais às pesquisas que busquem precisão onde a prática anterior da teoria não oferece precedentes. Tais impedimentos barram o desenvolvimento científico. Se as teorias efetivas impelem o cientista apenas às aplicações atuais, então impede-se surpresas, anomalias ou crises.
Alterar a acepção dos conceitos estabelecidos é vital à concussão revolucionária da teoria, as diferenças entre sucessivos modelos são ao concomitantemente necessárias e irreconciliáveis, a acolhida de um novo paradigma roga por uma redefinição da respectiva ciência. Algumas dúvidas anteriores podem ser deslocada a outra ciência ou declarados não científicos; outras anteriormente tidas como triviais ou inexistentes podem se converter, com a nova percepção paradigmática, nos modelos válidos. Portanto, na proporção que mudam os problemas, também alteram-se os padrões da verdadeira solução científica. A tradição científica normal emergente numa revolução científica é incompatível com aquela que submeteu.
As mudanças, na consciência dos cientistas sobre padrões da ciência normal, não têm caráter acumulativo e/ou de valor (bom ou mau). Elas são modificações compulsórias sempre que há adoção de uma nova concepção paradigmática. Observa-se que os paradigmas conseguem satisfazer, na maior parte, o método que ele impõe e não faz o mesmo frente ao método do seu oponente paradigmático. Portanto, da mesma forma que a questão dos referenciais em competição, também sobre os valores só responder-se-á, com alguma assertividade, nos termos anteriores à ciência.
Com base na historiografia alguns podem proclamar que a mudança dos paradigmas modifica também o mundo, mas certamente isso nunca se alcança; embora, as alterações paradigmáticas mudem a visão dos cientistas sobre o mundo definido por seus compromissos de pesquisa (a menos que exista um padrão exterior com afinidade ao qual uma alteração conceitual seja demonstrável) não abstrair-se-á nenhuma conclusão sobre a mudança da realidade. Por outro lado, na observação científica, o pesquisador não recorrerá a algo que esteja aquém ou além do que ele vê.
Decorrida uma revolução científica, muitos trabalhos anteriores se tornam entulho e são substituídos por outros, mas não importa o que o cientista pode ver, após a revolução, ainda observará o mesmo mundo. Entende-se que as modificações se dão nas relações paradigmáticas e dessas com os resultados concretos que dão a percepção sobre o mundo.
Quanto a “invisibilidade das revoluções”. Há circunstâncias que tornam as revoluções quase invisíveis. A visão hegemônica que cientistas e leigos têm da “atividade científica criadora” sucede de uma fonte legitimada que dissimula calculadamente a presença e o sentido das revoluções científicas. Dificilmente, antes da identificação dos mecanismos dessa visão hegemônica, é possível verificar a existência das mudanças de paradigmas. Nesse desafio compreensivo, o estudo dos manuais é importante porque são os condutores didáticos aplicados na perpetuação da ciência normal, e serão parcial ou totalmente reescritos após mudança paradigmática. Assim, a reelaboração de tais manuais expressa também a explicitação das revoluções das quais eles decorrem.
As revoluções apresentam soluções que se consolidam durante o processo de substituição entre paradigmas, tais conclusões decorrem de um processo que se inicia no discernimento de um indivíduo ou grupo de indivíduos que são os fundadores de uma nova perspectiva sobre o mundo. Isto compreendido, observa-se que o empreendimento efetivo de um paradigma acontece após a persistência do fracasso na resolução de um quebra-cabeça eminente que originará uma crise. Na ciência a experimentação simboliza parte do antagonismo entre dois paradigmas que candidatos à adesão da comunidade científica. Os argumentos, em favor de um novo paradigma, fundamentam-se no confronto entre as habilidades dos competidores para resolver problemas (a capacidade de tais recursos é o que força a adesão ao paradigma vitorioso).
Jubilosamente há outra consideração, potencialmente relevante, na condução do processo de rejeição do decrépito paradigma e sua substituição por um paradigma mais recente. São aquelas considerações que abrangem, no indivíduo, a percepção do sentindo do que é adequado ou estético. A importância de tais aspectos pode ser fundamentalmente decisiva. “Embora seguidamente atraiam apenas alguns cientistas para a nova teoria, o triunfo final desta pode depender desses poucos.” (Ibid., p. 195).
As disputas entre paradigmas não tratam efetivamente da aptidão para resolver problemática, ao invés disso, o assunto real é a decisão sobre que paradigma orientará as pesquisas científica (frente a muitos desses problemas, nenhum dos enquadramentos terá absolutas condições de resolvê-los). Portanto, no fundo, trata-se de um processo decisório sobre as formas mais convenientes de normatizar a prática científica. Tal escolha basear-se-á preponderantemente nas promessas conjeturadas do que nas realizações. Além disso, para vencer o paradigma necessitará “de alguns adeptos iniciais, que o desenvolverão até o ponto em que argumentos objetivos possam ser produzidos e multiplicados.” (Ibid., p. 201). Há espécies de deslocamentos numa dinâmica de classificação e reclassificação de acomodações das linhas dos especialistas. Na execução desse processo, o paradigma que vencerá, aumenta o número e a força de seus argumentos de convencimento. Assim, cientistas converter-se-ão ao novo paradigma até que fiquem alguns opositores mais decrépitos.
Também é importante à análise do “progresso através de revoluções” considerar o tema como em aberto. O autor entende que sua descrição se apercebe da “estrutura essencial da evolução contínua da ciência”. Num contexto no qual a termo ciência refere-se àquelas áreas que progridem num aspecto aparente. O desenvolvimento, aparentemente óbvio, ocorre concomitantemente à hegemonia de uma ciência normal com seu paradigma. Em tais períodos, entretanto, os expertos não podem atinar sobre os resultados de seus esforços de outra maneira que não seja sob a influência do paradigma posto. Portanto, fração significativa da resposta à problemática do desenvolvimento localiza-se na perspectiva do observador, por que o cientista atua para um grupo que partilha de seus valores e crenças que permitem-no estatuir regras específicas.
Conforme o descrito acima, o cientista preocupar-se-á com a censura de outro grupo ou escola, o cientista concentrar-se-á nos problemas que se julgue competente para resolver e não estará constrangido a escolher uma problemática sem considerar o ferramental disponível para tal empresa. De tal perspectiva, há um “contraste entre os cientistas ligados às ciências da natureza e o muitos cientistas sociais é instrutivo. Os últimos tendem frequentemente, e os primeiros quase nunca, a defender sua escolha de um objeto de pesquisa.” (Ibid., p. 208).

Tendo disponível uma geração, para efetivar a alteração, a rigidez individual compatibilizar-se-á com um grupo capaz de trocar de paradigma quando a situação demandar, na estabilidade da hegemonia da ciência normal, a comunidade científica aparelha a resolução dos “quebra-cabeças definidos por seu paradigma”. Além disso, as revoluções arrematam glorificando totalmente um dos campos rivais e o grupo vencedor dificilmente deixará de perceber sua própria ascensão como progresso. A análise, de tal perspectiva, mostra que o consócio de uma comunidade científica amadurecida sacrifica sua crítica no processo da reescrita histórica feita pelos poderes constituídos. Em tal contexto, ignora-se que as revoluções científicas caracterizam-se tanto de perdas como de ganhos.
talvez tenhamos que abandonar a noção […] segundo a qual as mudanças de paradigmas levam os cientistas e os que com eles aprendem a uma proximidade sempre maior da verdade. […] O processo de desenvolvimento [foi descrito aqui como] [...] evolução a partir de um início primitivo. […] Mas nada do que foi ou será dito o transforma num processo de evolução em direção a algo. (Ibid., p. 215, grifo nosso).

Enfim, verifica-se, por meio da historiografia, que os diferentes ciclos revolucionários intervalados por períodos de estabilidade de diferentes paradigmas às respectivas ciências normais compõe uma estrutura que fundamenta a legitimidade do conhecimento científico em cada um dos contextos sociais e históricos. Além disso, tudo isso ocorre sem uma verdade eternizada.


REFERÊNCIAS:



KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011. 260 p.

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